colher em riste
a humanidade é uma colher em riste
fico à sua espera
:
de boc A berta
— faminta —
colho somente o ferro / trinco os dentes
encolho minha indignação pela saliva.
Quando Beatriz Bajo estreou em 2010, o fez queimando. Incendiou a cena com sua agulha quente a tatuar versos explosivos recém aterrisados de constelações outras.
Sua Face do fogo revelou um milagre de profundo florescimento linguístico, através do qual a alma se materializa escorrida em sangue ABO+++. Isso porque suas hastes-fósforos lançam a faísca do encontro da prosa com a poesia, dos temas espiritual e carnal, do som com a imagem. Explosão!
Excede o texto de Beatriz em quadros intensos, entorpecentes, lago turvo de perdição onde veios tantos se traçam, significados se bifurcam, formas se delineiam, e nos situam ante o pote secreto da riqueza poética - faz brilhar em arco a íris.
Transmutado em água-viva clariceana, o eu-lírico de A face do fogo manipula os malabares em chamas dos ímpetos sensório-criacionais, erigindo uma linguagem única, de verbalidade pré-consciente, que se marca, inchada em bolha, e que, uma vez estourada, inunda de luz a leitura.
Deixa queimar...
"é que me livro
pelas riscaduras na pele
despudorando o verso
ventre"
"cada beijo é como comer borboletas
para que as matizes de dentro se libertem, se debatam
no assanhar das asas"
"vou esmiuçando o que more em mim em horas de partos silenciosos que gritam do útero primeiro... meu ventre meus ventos... assim desembocam!"
Serviço:
A face do fogo
Beatriz Bajo
119 páginas
Annablume (coleção [e] editorial )
Dados da autora:
Beatriz Bajo é poeta, editora-geral da Rubra Cartoneira Editorial, revisora, tradutora, professora de língua portuguesa e literatura, especialista em Literatura Brasileira (UERJ). Seus livros são a face do fogo (SP, 2010), : a palavra é (PR, 2010) e domingos em nós (PR, 2012). Mantém o blogue Linda Graal (http://lindagraal.blogspot.com/).
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